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Mercado de seguros deverá dobrar até 2030

- 09/08/2022 16:14

A cada dia fica mais claro que o avanço da inteligência artificial (IA) está promovendo uma nova revolução industrial. Hoje em dia, as máquinas são capazes de emular a inteligência humana e realizar tarefas cada vez mais complexas. Executam não apenas as atividades rotineiras, mas também, e cada vez mais, tarefas que exigem interpretação, aprendizagem e análise. Com isso, deve haver no futuro próximo um importante ganho de produtividade, além de uma profunda reestruturação da atividade produtiva em todo mundo.

De especial interesse para o mercado segurador são as possibilidades para a gestão de riscos, a automatização dos processos internos e da relação entre o cliente e a empresa. A inteligência artificial, fazendo uso de grandes bancos de dados, em cidades cada vez mais conectadas, ampliam significativamente não só a capacidade preditiva de riscos, mas a possibilidade de interação e intervenção rápida. Isso vale também para a eficiência dos procedimentos internos e prospecção e aproximação de clientes. 

Considere, por exemplo, o uso das novas tecnologias para a detecção e prevenção de fraudes. Comportamentos atípicos, desviantes da norma, são indicadores de fraudes. Com amplo acesso aos dados, a IA compara, em segundos, o comportamento dos clientes, e identifica, com razoável precisão, aqueles que requerem maior atenção. De outro modo, a tecnologia pode servir também à minimização dos riscos, por exemplo, como já acontece no seguro auto, recompensando o segurado que assume menos riscos enquanto dirige, diminuindo a sinistralidade.

Novas ferramentas administrativas aumentam a produtividade interna das seguradoras, reduzem a burocracia e aceleram a tomada de decisão. É o caso do autosserviço, ferramenta que cresceu muito durante o período de isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, e que é agora tendência irreversível. Através dela, o próprio segurado pode realizar e encaminhar, online, desde solicitações e comunicações diversas a vistorias de veículos.

As novas tecnologias reinventaram a interação entre clientes e empresas. No ambiente virtual é possível fazer comparações, simulações e combinações dos produtos e serviços de acordo com suas preferências. O uso dos chatbots, quando o cliente entra em contato com a empresa e conversa, através de chat, com uma máquina, é amplamente difundido nos vários segmentos da economia. O principal, tudo acontece em poucos segundos, o cliente não fica sem resposta e recebe primeiro direcionamento bastante eficaz. 

Outra possibilidade é a oferta de seguros feita diretamente junto aos prestadores de serviços ou em pontos de venda, como hotéis, para seguros-viagem, concessionárias, para o seguro automobilístico, e assim sucessivamente. As plataformas digitais podem contribuir para integrar as seguradoras aos respectivos parceiros. É o chamado seguro embutido (embedded insurence), que, por outro lado, implica para a seguradora a perda da relação direta entre o cliente e o agente de seguro.

O mercado tem muito a avançar na individualização dos serviços para os clientes. Com mais dados é possível conhecer melhor as necessidades de cada um. Empresas e clientes têm muito a ganhar com maior flexibilidade. Ainda hoje, o setor segurador como um todo baseia-se mais no que é capaz de oferecer do que nas necessidades das pessoas, que se veem forçadas a lidar com um conjunto amplo de informações, recheadas de detalhes técnicos de difícil apreensão. 

A inteligência artificial permite inúmeras inovações que já transformaram vários mercados. Em cada um deles, deslocando o foco do produto para o cliente. Ou seja, em lugar de competir pela oferta de um produto mais completo, ou de um produto semelhante com menor preço, a competição dá-se pela oferta de um produto mais personalizado, e precificado de acordo com o perfil elaborado. 

Hoje, já é oferecido seguro automotivo por quilômetros rodados, ideal para clientes que fazem pouco uso do carro. Telefones celulares, cada vez mais importantes em nosso cotidiano, e a saúde do pet, também podem ser segurados. Vale notar, a essência do setor é justamente o compartilhamento do risco, ou seja, o subsídio cruzado entre clientes. Então, com o melhor mapeamento dos riscos, alguns tipos de proteção poderão se tornar inviáveis.

O chamado open insurance, ou Sistema de Seguros Abertos, regulamentado no ano passado, permitirá aos usuários de serviços de seguro, previdência complementar ou capitalização, o compartilhamento de seus dados entre as empresas autorizadas pela Superintendência de Seguros Privados. Com mais dados disponíveis, a eficiência da IA pode ser aumentada. E mais do que isso, os dados abertos modificam a estrutura de mercado do setor. Amplia-se a possibilidade de concorrência. Aplicativos poderão ser desenvolvidos para a simulação e comparação online dos preços e produtos das diferentes seguradoras. A portabilidade de serviços como a previdência poderão ser feitos de forma digital.

Os avanços tecnológicos da IA são potencialmente disruptivos, o que abre novas possibilidades de riscos. Por exemplo, aumentaram os crimes digitais durante a pandemia, como era esperado em função do uso mais intensivo de aplicativos e computadores. E mais, para além das fraudes, os ataques cibernéticos causaram uma série de transtornos para empresas e cidadãos.

Para além dos aspectos associados à proteção, a tecnologia da informação reduz custos de diferentes formas. Os usos mais citados para a IA, entre as seguradoras, são: o aumento da produtividade interna; a automatização nas solicitações (incluindo a detecção de fraudes), a automatização nas interações com os clientes, a análise de dados para a gestão da retenção e rotatividade de clientes e a automação na subscrição.

Como o restante da sociedade, o setor de seguros sofre o impacto das novas tecnologias. Cabe às empresas aproveitar o momento, inovar e oferecer aos clientes a melhor experiência e proteção. Toda mudança é também uma oportunidade. Não é por acaso que a consultoria internacional Bain & Company espera que o setor segurador quase dobre de tamanho até 2030, saltando de U$ 5,5 trilhões para U$ 10 trilhões.

É claro, como em muitas outras atividades, um dos principais motivos pela projeção otimista é o crescimento da economia chinesa, em quase tudo um mercado imenso e ainda pouco explorado. Mas o Brasil não vai mal, ocupa a oitava posição no Índice Global de Potencial Segurador, calculado em função do hiato entre o nível observado e o potencial de proteção, estimados pela seguradora Mapfre.

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